Obesidade Infantil

Este material tem propósito informativo e não dispensa a necessidade de consulta a profissional qualificado e habilitado

“Como se fosse um conto de Fadas, vamos imaginar que hoje, ao acordar, você está transformado em uma criança obesa. Você se levanta da cama e se sente já cansado pela noite mal dormida. Vai até a janela e vê outras crianças brincando e anima-se pra ir até lá. Mas alguma coisa o incomoda, você percebe que está com fome. Vai até a cozinha e come. Come bem mais que seu irmão magrinho, e ainda não consegue satisfazer-se totalmente. Você gostaria de ter comido menos, aquela sensação de estomago cheio não é boa, mas não conseguiu. Vai até a rua, e quando chega, ofegante pelos dois quarteirões que andou, é recebido com piadinhas, apelidos e gozações. Entra no jogo, mas seu desempenho é péssimo; não consegue acompanhar a brincadeira, fica sempre por último. Volta pra casa mais cedo que gostaria, senta-se desanimado na frente da TV, pega um pacote de bolachas recheadas e come rapidamente, sem pensar. A bolacha e a TV ajudam você a se acalmar e a esperar pela hora do almoço...”

 

Trecho retirado do Livro “ De Gordinho a Fofinho” de Carlos Alberto N. Almeida

 


img-obesidade-infantil-1A obesidade é hoje considerada um importante problema de saúde pública, e uma epidemia global, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Sua prevalência tem aumentado principalmente entre as crianças.1

Nos EUA a obesidade infantil aumentou em 67% entre os meninos e 41% entre as meninas.2

No Brasil, estudos mostram que o sobrepeso e obesidade atingem mais de 30% das crianças e adolescentes.3

A obesidade é definida como desordem da composição do corpo,com excesso de massa gorda, levando a aumento do peso corporal acima da média para idade e sexo. É uma doença crônica,com múltiplas causas, incluindo fatores genéticos e ambientais. Sabe-se que 95 a 98% dos casos são de causa exógena, ou seja, fatores ambientais e culturais, com alimentação inadequada, e comportamento sedentário. Apenas 2 a 5% são causadas por distúrbios endócrinos ou causas genéticas.4

img-obesidade-infantil-2A prática de assistir televisão muitas horas por dia, a difusão dos jogos eletrônicos, o abandono do aleitamento materno e a utilização rotineira de alimentosindustrializados são alguns dos fatores determinantes.

Sabemos que 80% das crianças obesas aos 5 anos de idade permanecerão obesas, e que as alterações que resultam em complicações na vida adulta, como Infarto, diabetes, Acidente Vascular Cerebral (“Derrame”) se iniciam na infância.1 Assim, a obesidade durante a infância resulta em complicações imediatas e futuras.

As principais complicações da obesidade são:

  • Hipertensão arterial, já na infância e adolescência, favorecendo futuras complicações cérebro-vasculares (“derrame”) e cardiovasculares (“infarto”).
  • Excesso de produção de insulina pelo pâncreas (Hiperinsulinemia) e resistência à insulina, podendo evoluirpara diabetes melitus tipo II.
  • Elevação dos níveis de Colesterol e Triglicérices (Dislipidemia), evoluindo para aterosclerose e doenças cardiovasculares.
  • Complicações ortopédicas devido ao excesso de peso sobre as articulações, principalmente joelhos e quadril.
  • Alterações de função pulmonar, por pressão do peso da barriga sobre o diafragma,podendo ocorrer dificuldade respiratória durante o sono ( Apnéia do Sono), levando sonolência diurna, irritabilidade e queda de rendimento escolar.
  • Alterações dermatológicas - estrias, infecções por fungos (‘’assaduras”) e acantose nigricans, (escurecimento da pele nas axilas e no pescoço devido a hiperinsulinemia).
  • Problemas psicológicos, como isolamento progressivo, baixa auto-estima, que podem evoluir para depressão, agressividade, comportamento anti-social.

Portanto, precisamos encarar que a obesidade é uma doença, como outra qualquer, e que deve ser diagnosticada e tratada devidamente.

É importante detectar e modificar comportamentos de risco para obesidade. E para que haja sucesso terapêutico,a participação dos pais e cuidadores é fundamental, devendo a mudança do estilo de vida envolver toda a família.
 

 

Referências bibliográficas:

1. Abrantes MM, LamounierJA, Colosimo EA. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste. J Pediatr (Rio J) 2002; 78 (4):335-40.
2. Giugliano R,Melo ALP. Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em escolares: utilização do índice de massa corporal segundo padrão internacional.J. Pediatr. (Rio J.) vol.80 no.2 Porto Alegre Mar./Apr. 2004.
3. Oliveira CL, Fisberg M. Obesidade na infância e adolescência – uma verdadeira epidemia. ArqBrasEndocrinolMetabol (São Paulo) 2003; 47(2):107-8.
4. Escrivão MAMS, Oliveira FLC, Taddei JAAC, Lopez FA.Obesidade exógena na infância e na adolescência.J Pediatr (Rio J) 2000;76(3):305-10